Cravo e Canela: o digestivo brasileiro que aquece com estilo
- Felipe Sabor
- 2 de out.
- 3 min de leitura
Você pode chamá-la de “cachaça de cravo e canela”. Mas seria como chamar um blazer feito sob medida de “roupa de frio”.
Porque, quando bem feita, com ingredientes nobres, sem excesso de açúcar e com cachaça base de qualidade, essa bebida tão brasileira quanto o samba é puro luxo aromático. Um digestivo de identidade quente, especiada, sensual — e perfeitamente alinhado com o renascimento da coquetelaria de raiz.
A mistura de cravo e canela não é invenção moderna. É herança. É alquimia que atravessou séculos — das rotas das especiarias ao interior do Brasil — e agora pode (e deve) ser reinterpretada com sofisticação.

Muito além do “quentão”
Vamos deixar algo claro: cravo e canela não são só temperos de festa de São João. Essas especiarias, quando tratadas com respeito, são matéria-prima para verdadeiros rituais sensoriais.
O cravo-da-índia oferece intensidade, pungência, doçura resinosa e um leve amargor herbal.
A canela — de preferência a do tipo Ceylon — traz calor, doçura seca e uma nota amadeirada delicada.
Juntas, essas duas forças criam uma bebida com nariz potente, boca envolvente e um final prolongado que aquece o peito sem ser agressivo.
Como servir com elegância?
Temperatura ideal: entre 10°C e 14°C — levemente resfriada, sem esconder os aromas.
Taça recomendada: pequena, de boca fechada (estilo licor), ou um copo baixo de vidro fino.
Momento ideal: após o jantar, com luz baixa e conversa lenta. Ou ao lado de uma sobremesa seca, como um bolo de castanhas, um chocolate amargo ou uma torta de frutas.
Aqui, menos é mais. Nada de gelo picado, canela em pau no copo ou açúcar na borda. A elegância está na discrição do gesto e na potência do sabor.
🥃Receita Artesanal de Cachaça com Cravo e Canela (Versão Elegante)
📦 Ingredientes:
700 ml de cachaça branca artesanal (de alambique, graduação entre 38% e 42%)
2 unidades de canela em pau (tipo Ceylon)
10 a 12 cravos-da-índia inteiros
1 colher de sopa de açúcar demerara ou mel de abelha nativa (opcional e ajustável)
1 tira de casca de laranja-baía (sem a parte branca, opcional)
1 garrafa de vidro âmbar ou escura com tampa hermética
🧪 Modo de Preparo:
Escolha uma cachaça neutra e bem feita. Quanto mais limpa e equilibrada a base, mais nítidas e sofisticadas ficarão as notas das especiarias.
Em um recipiente de vidro (pode ser a própria garrafa), adicione o cravo, a canela e a casca de laranja (se desejar uma nota cítrica e seca no final).⚠️ Não exagere nas especiarias: elas dominam facilmente a bebida. Aqui, buscamos elegância e equilíbrio, não agressividade.
Adicione a cachaça cuidadosamente, cobrindo bem todos os ingredientes. Feche bem o recipiente.
Deixe descansar por 5 a 7 dias em local fresco e escuro. Agite suavemente uma vez por dia. Prove a partir do 4º dia — quando sentir que o aroma e o sabor chegaram no ponto desejado, coe e finalize.
Coe com filtro de papel ou peneira fina. Se quiser uma textura levemente mais aveludada, adicione 1 colher de sopa de mel ou açúcar demerara dissolvido em um pouco da própria infusão morna. Misture bem.
Engarrafe em frasco de vidro escuro, rotule com data e lote. Deixe descansar mais 2 a 3 dias para integração final dos sabores.
🍸 “Pérola Negra” — digestivo com cachaça de cravo e canela e toque de café
Ingredientes:
50 ml de cachaça artesanal com cravo e canela
15 ml de licor de café ou infusão fria de café 100% arábica
5 ml de licor de amêndoas (opcional)
1 twist de casca de laranja
Gelo
Modo de preparo:
Em um mixing glass com gelo, misture todos os líquidos.
Mexa lentamente até gelar.
Coe para um copo baixo com uma pedra única de gelo.
Finalize com o twist de laranja, passado sobre a borda do copo para liberar os óleos.
Sensação: A canela esquenta, o cravo perfuma, o café dá profundidade — e a laranja amarra tudo com uma nota cítrica que levanta o final.
Cravo e canela são como jazz: quando bem conduzidos, criam harmonia a partir da tensão.
E é essa tensão que torna a bebida tão única. Nem doce demais, nem seca demais. Nem agressiva, nem apagada. A cachaça com cravo e canela bem equilibrada é uma ode ao calor brasileiro — em versão engarrafada.
Ela pode estar na prateleira ao lado dos amaros italianos, dos licores de ervas da Alsácia, dos digestivos japoneses à base de yuzu. E, ainda assim, contar uma história que é só nossa.
Porque luxo de verdade não está no ingrediente exótico. Está na forma como você trata o que é seu — com orgulho, técnica e estética. Um Brinde a Você Que Faz Diferente!






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