A Revolta da Cachaça: o dia em que o Brasil (quase) virou um barril de pólvora
- Felipe Sabor
- 5 de jun.
- 3 min de leitura
Em pleno século XVII, muito antes do Brasil ser o país do futebol e da feijoada, ele já era, com orgulho, o país da cachaça. Mas em 1660, essa paixão nacional quase terminou em sangue.
E o motivo? Impostos.(Porque se tem algo mais tradicional que cachaça no Brasil, é o governo tentando cobrar imposto por ela.)

🌾 Primeiro, uma rápida dose de contexto
A cachaça — também chamada de aguardente ou “pinga” — já era produzida desde os tempos da colônia, fruto da engenhosidade dos senhores de engenho e da força bruta dos escravizados.
Enquanto os portugueses preferiam vinhos e brandies importados da Europa, os brasileiros começaram a desenvolver uma quedinha pelo destilado feito da cana-de-açúcar. Era mais forte, mais barato e... bem, mais brasileiro.
Mas Portugal não gostava disso. Não por motivos etílicos, claro, mas porque a cachaça ameaçava os lucros da bagaceira portuguesa. E lucro, como a gente sabe, é assunto sério.
💣 A pólvora se arma: chega o imposto
No final de 1660, a Coroa portuguesa decidiu taxar a produção de cachaça no Brasil, alegando a velha desculpa: “regular o comércio”. Na prática? Queria grana.
Só que essa medida não caiu nada bem no Rio de Janeiro, principal centro produtor na época. A população, formada por pequenos produtores, comerciantes, trabalhadores e até senhores de engenho, enlouqueceu. E como todo brasileiro revoltado...decidiu protestar.
🪓 E se protestar não resolver… depõe o governador
A treta ficou tão séria que em novembro de 1660, um grupo de revoltosos marchou até o palácio do governador Salvador Correia de Sá e Benevides.
Não foi uma simples manifestação. Foi um motim com gosto de alambique. O povo invadiu prédios, enfrentou soldados e, pasme:
Derrubaram o governador e instauraram um governo provisório.
Sim, o Brasil do século XVII teve um "golpe da cachaça".
🩸 Mas como toda boa cachaça… a ressaca veio
É claro que Portugal não ia deixar barato. Em abril de 1661, tropas leais à Coroa reprimiram o levante. Os líderes foram presos, alguns executados, outros exilados.
O governador voltou, com sede de vingança (e talvez de vinho europeu).
Mas o estrago já estava feito: o povo havia mostrado que não aceitaria calado quando mexessem com sua bebida. E Portugal entendeu o recado.
🧠 E o que isso nos ensina?
A Revolta da Cachaça foi o primeiro grande levante popular do Brasil com motivações econômicas e culturais ao mesmo tempo. Mais do que defender o bolso, os brasileiros defendiam algo maior:
Uma identidade que estava fermentando no fundo dos barris.
Décadas depois, Portugal aceitaria a legalização da cachaça como produto colonial — e o Brasil continuaria a aprimorar a bebida até ela ganhar o mundo.
📌 Curiosidades para contar no boteco:
A cachaça chegou a ser proibida em 1635 por um alvará real.
Em alguns lugares do Brasil colonial, escravizados recebiam cachaça como "incentivo" ao trabalho.
Hoje, existem mais de 40 tipos de madeiras brasileiras usadas para envelhecer cachaça — nenhuma delas aceita imposto sem chiar.
🍹 Brinde à rebeldia
Na próxima vez que você levantar um copo de cachaça, lembre-se: essa bebida já derrubou governador, mobilizou multidões e ajudou a construir a identidade brasileira. Não é só pinga. É resistência líquida. Um Brinde a Você Que Faz Diferente!
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